Lagoas de Bertiandos
Aspeto da Lagoa do Mimoso
A cerca de 5 km da vila de Ponte de Lima, seguindo pela Nacional 202, achamos a aldeia de Bertiandos. Situada na margem direita do Rio Lima, Bertiandos é uma pequena povoação rural com menos de 400 habitantes que, conjuntamente com Estorãos e Santa Comba (onde outrora se fabricou o queijo Limiano), fez parte do couto de Bertiandos.
O esplendoroso Solar de Bertiandos, erigido no século XV, é uma autêntica joia, não só do Minho, como da própria nação, enquanto símbolo da nossa história. No seu logradouro encontra-se plantado um marco miliário da época romana - séc. III - com 2,5 metros de altura, ali mandado colocar pelo senhor da Casa de Bertiandos, após a extinção do couto.
Constou-se (ao que parece, sem confirmação) que Paul McCartney, ex-Beatle, teria mostrado interesse em adquirir esta propriedade, no final da década de 1980, a qual está classificada como "imóvel de interesse público", desde 1977. Lenda ou não, o imóvel merece efetivamente um olhar contemplativo, pela beleza e pela história que encerra.

Solar de Bertiandos - Foto: Junta de Freguesia de Bertiandos
À esquerda do solar, um caminho calcetado conduz-nos à ponte do Esteiro, construída durante o século XVI ou XVII, a qual estabelece a separação entre a zona das tapadas e a zona agrícola. Optamos por iniciar o nosso percurso no pequeno largo antes da ponte, seguindo justamente pelo estradão que passa junto desta.
São vários os percursos ou rotas que cruzam esta zona de Reserva Ecológica Nacional. Segundo o site oficial, haverá pelos menos 10 percursos assinalados e nomeados. O que fizemos foi uma adaptação à PR6, a Rota do Solar, à qual suprimimos o desvio pelo santuário do Senhor da Saúde, na freguesia de Sá, cientes que estaríamos a amputar-lhe um ponto de interesse de elevado relevo.
Este labirinto de caminhos com uma rede de passadiços sobrelevada, percorre a zona húmida da Paisagem Protegida das Lagoas de Bertiandos e São Pedro de Arcos, um autêntico oásis de biodiversidade que está classificado como "paisagem protegida", fazendo parte da Reserva Ecológica Nacional (REN), e incluindo-se na Rede Natura 2000. É também um local classificado como "sítio Ramsar".
Ramsar é a cidade iraniana onde, em 1971 foi assinada a "Convenção sobre Zonas Húmidas", um tratado intergovernamental que tem como finalidade promover e assegurar a preservação de "sítios de importância internacional". Segundo o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, fazem parte deste tratado 169 países de todos os continentes. Por aqui pode aferir-se da importância deste lugar, deveras encantador.
Ao penetrar na área arborizada das Lagoas, uma tranquilidade apodera-se do caminhante. Os sons, os aromas, as cores… formam um conjunto único e inspirador. O verde predomina, sob o sol de verão ou envolto na neblina de inverno, criando uma musicalidade visual alegre ou misteriosa, consoante os tons cromáticos do quadro.
O rio Estorãos escorre, ora calmo, ora transbordante, condicionado pelas torrentes da Serra d’Arga, que ao longe zela e repousa.
Ao caminhante é imposto, não só pelos sinais, mas até por uma espécie de subconsciência, o cumprimento de regras que visam proteger o local. Segundo refere o site natural.pt, serão 508 espécies de plantas, algumas raras ou ameaçadas, 9 espécies de peixes de água doce que usam o rio como corredor de acesso aos seus locais de desova, a montante, e 144 espécies de aves, para além dos invertebrados, amplamente representados, sem falar na flora, nomeadamente a vegetação ripícola, as pastagens, os bosques de folhosas e o pinheiral.
Juntos às Lagoas do Mimoso e de São Pedro d’Arcos (Lagoa Grande) existem postos de observação, sobretudo de aves aquáticas. Placas junto aos passadiços indicam a proibição de, entre outras, passear cães à solta ou correr, atividades que noutro local são aconselháveis mas que aqui provocariam distúrbio na vida selvagem que fervilha.
Este percurso, inteiramente plano e com abundante sombra, passa muito próximo de outros pontos de enorme interesse da região, permitindo adaptações para que possam constar do traçado. Para além do mencionado santuário do Senhor da Saúde, onde, em dias de festividade anual, os fiéis fazem a sua penitência, “caminhando” de joelhos sob os andores, ao longo do percurso da procissão, há o moinho de Estorãos, raramente conservado, com a sua grande roda a tanger as águas da pitoresca praia fluvial que o margina e a velhinha ponte medieval de arcos a resistir ao inexorável tempo. Há ainda a aldeia do Cerquido, no sopé da Serra d’Arga, com o seu tipicismo e as suas tradições ancestrais, nascidas da braveza da serra e do isolamento.
Enfim, Mochila e uma Cabana aconselha vivamente este destino, para se fazer a pé e desfrutar do belo que o sítio tem para dar. Deixamos algumas imagens, sugerindo uma visita à nossa página do Wikiloc, onde outras fotos se encontram publicadas.
Ponte de Esteiro
Aspeto do caminho, numa fase inicial
Ponte de Freixa
Rio Estorãos
Lagoa de São Pedro ou Lagoa Grande
Rio Estorãos
Pontelha de Fujacos
Lagoa do Mimoso
Posto de observação de aves
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