Ilha do Faial
Aspeto da marina da Horta, no Faial
O arquipélago dos Açores reivindica a fama de "paraíso" e o caso não será para menos, se o paraíso for o local calmo e belo, pleno de encantos e harmonia com que o senso comum tão bem o descreve.
Dos Açores, escolhemos o Faial, uma pequena ilha do grupo central do arquipélago, com vista para o Pico - o ponto mais alto do território nacional. Tinha que ser!
Visitar os Açores e cada uma das suas nove ilhas requere tempo… e um bom plano ou corre-se o risco de, mais tarde, descobrirmos que deixamos para trás sítios imperdíveis.
Como o tempo é um recurso escasso, contentamo-nos com o "plano", o que, no tempo que dispunha-mos, nos permitiu visitar amplamente o Faial, razoavelmente o Pico e passar pela Terceira (neste caso, mais por força dos voos).
Não fugindo ao propósito desta partilha, de servir de "dica" para quem pensa visitar pela primeira vez o Faial (ou os Açores), destacamos os pontos principais do nosso plano:
- A viagem e os voos
- Onde ficar
- Onde comer
- O que visitar
- Onde comprar
Viajar
A viagem deve ser planeada com tempo. Isso permite poupar muito dinheiro nos bilhetes, conseguindo-se preços muito acessíveis. Um dos "truques" utilizados foi optar por viagens com escala, que, apesar de mais morosas, são bastante mais em conta, permitindo, se convenientemente articuladas, visitar ilhas onde normalmente não iríamos. Exemplo disso foi a viajem de regresso, que fazia escala na Ilha Terceira, numa ligação de apenas alguns minutos entre a Horta e as Lages, onde chegamos a tempo de passear junto à Praia da Vitória, de jantar e de retomar o passeio. Pernoitamos num bonito Hostal (naquela época do ano - outubro - vazio) e seguimos de manhã cedo para o aeroporto (depois de termos previamente combinado com um taxista local para nos ir recolher ao Hostal).
Das Lages o voo seguiu direto para o Porto. Na ida, havíamos feito escala em Lisboa (Porto - Lisboa - Horta), tendo os custos rondado os 120 euros por pessoa (ida e volta).
Onde ficar
Também a escolha atempada é aconselhada e os sites de oferta e comparação são muito bons, ajudando imenso quem não conheça o local de destino.
Vista a partir do Hotel da Horta, com o Pico ao fundo
Comparar os preços é importante, mas não o único aspeto a considerar. Os pequenos almoços, por exemplo, devem ser fator de ponderação. O local escolhido era magnífico e com boa relação qualidade/preço. A sua centralidade permitia o acesso rápido a cafés e pastelarias, pelo que pudemos optar por excluir o pequeno almoço dos encargos com o hotel (mais dispendiosos e com menor escolha do que na restauração local).
Em termos de opções, são imensas e não haverá, desde que atempadamente tratado, falta de alojamentos, de diferente tipos e preços variados, desde os muito acessíveis aos bem caros.
Onde comer
Tal como em relação ao alojamento, também os restaurantes variam, embora, tratando-se de uma região marcadamente turística e, acima de tudo, insular (que importa muito do que comercializa), os preços situam-se nesse patamar - um pouco acima do que seria considerado como "em conta", naturalmente na nossa perspetiva.
Dois ou três lugares marcaram-nos, essencialmente pelo agradável que se revelaram:
- o "Azul Pastel", que dispõem também de alojamentos (lofts), na costa sul da ilha, com uma soberba esplanada sobre o Atlântico, com vista do Monte da Guia, e de onde se pode assistir aos impressionantes pôr-do-sol. Aqui serviam refeições rápidas e económicas;
- o "Praya Restaurante", pela comida e pelo local, mesmo junto à Praia do Almoxarife;
- a "Taberna do Pim", que na altura se encontrava encerrada (funciona sazonalmente), mas cujos proprietários nos serviram um belo de uma jantar tipicamente confecionado. Bem junto à praia de Porto Pim, um dos locais icónicos da ilha.
A Carla e a Catarina, no "Praya"
Poderemos acrescentar o famoso "Peter", sobretudo por ser uma excelente escolha para saborear um bom gin, enquanto se aprecia a marina, ponto de passagem de muitos aventureiros do mar, em rotas transatlânticas, ou o "Oceanic Cafe", um bar com um ambiente extraordinário, principalmente noturno.
Para quem pretender, a ilha dispõe de um hipermercado, além do comércio local, o que dá imenso jeito na hora de preparar uma mochila para uma incursão pedestre pelas levadas, pela borda da Caldeira ou pelo Vulcão dos Capelinhos.
O que visitar
Não pretendemos substituir um guia de turismo regional, tão só partilhar o que nos encheu os olhos e alegrou a nossa viagem.
A volta (de carro - que alugamos no próprio aeroporto da Horta) à ilha, em ritmo de passeio e com paragens estratégicas para apreciar os muitos miradouros existentes, leva umas três horas. Depois, há locais que merecem sem dúvida um dia dedicado.
O Vulcão do Capelinhos
No ponto mais ocidental da ilha, este importante ponto de interesse histórico (pela erupção de 1957), de estudo (que atrai cientistas de vários pontos do mundo, tendo um centro interpretativo com imenso para explicar) e turístico (aconselhamos vivamente não esquecer as botas de caminhada, pois os trilhos são de cortar o folego) merece um dia dedicado.
A Caldeira
Mais para o interior, quase no centro do Faial, encontramos um dos locais mais belos e exuberantes da ilha - a Caldeira do Faial.
Aconselhamos vivamente uma visita a pé, pois trata-se do trilho mais elevado da ilha.
Esta caraterística, aliás, deixa os incautos expostos a "viragens" repentinas do tempo; ora começas sob um alegre sol, resplandecendo nas águas do Atlântico, ora se forma uma cúpula de névoa que acaba por se precipitar em forma de chuva fria. Por isso, se o tempo estiver instável, não esquecer o impermeável!
Chegar até à Caldeira do Cabeço Gordo é fácil, sempre por boa estrada, ladeada de hortênsias, que desagua num pequeno largo pitoresco, com uma recompensante paisagem. A seguir, pés ao caminho! Uma volta pelo rebordo da caldeira faz-se em duas horas, por um trilho bem marcado e sem grandes desníveis. Pelo caminho, haverá tempo para as belas fotos e para apreciar as espécies.
Há quem opte pela descida, de cerca de 400 metros. Não o fizemos, por isso não poderemos partilhar essa experiência, que será deveras interessante.
Na Horta
A cidade da Horta é o "centro" da ilha, a zona mais desenvolvida e com maior densidade populacional, com pouco menos de 9000 habitantes. O seu desenvolvimento passa, naturalmente pela sua posição estratégica no meio do vasto Atlântico, associada às pontes de comunicação, como é o caso do aeroporto, a poucos quilómetros de distância, em Castelo Branco, o porto de mar, com linhas de ligação entre ilhas ou transatlânticas, e a própria marina da Horta, considerada por muitos como uma das mais belas do mundo. Nós, particularmente, não deixamos de apreciar a sua luz, intensa, vibrante, impregnada de sonhos e de imaginário, densamente sentidos nos barcos que ali repousam, a meio de longas viagens por esses mares sem fim onde insistentemente teimam em lutar.
No paredão da marina, estende-se uma imensa tela de memórias dos aventureiros que por ali já passaram. Manda a tradição que "assinem" o local com um desenho alusivo à sua embarcação, para garantirem a sorte e a segurança tão necessárias na viagem.
A marina, tal como é atualmente, data de meados da década de 80, do século passado, mas será já a quarta mais visitada do mundo, segundo consta em sites referentes ao arquipélago dos Açores.
Marina da Horta
Marina do Faial - vista a partir do Monte Queimado
Não muito distante, protegida pelo Monte da Guia, podemos visitar a baía de Porto Pim, com uma praia de excelência, águas tépidas e calmas, pouco profundas, e areia macia, convidativa ao inevitável mergulho.
E, já que falamos, o Monte da Guia, a par do Monte Queimado, serão, quiçá, o local de onde se retrata o mais usado postal de promoção da beleza desta ilha. Visto do céu, assemelha-se a uma meia-lua, de onde sobressaem uma espécie de dois olhos marinhos; na realidade são duas crateras vulcânicas que se intercetam (o próprio monte é um vulcão). Está definitivamente ligado à "caça" da baleia e uma caminhada pelos seus trilhos mostra o que resta de construções que serviram essa lide. Há também o Museu da Fábrica da Baleia de Porto Pim, que surgiu após a inativação da fábrica, por cessação desta atividade, na sequência da adesão de Portugal à legislação internacional que a proíbe.
Vista da praia de Porto Pim, a partir do Monte da Guia
Vista do Monta da Guia - zona protegida
Vista da praia de Porto Pim, a partir do Monte da Guia
Ali ao lado, sobranceiro à praia de Porto Pim, ergue-se o Monte Queimado. Percebemos o nome, dada a cor cinzenta e negra da terra que o forma, saída das entranhas do vulcão que lhe deu origem.
Para os mais bem preparados, porque não trepar e apreciar a paisagem de horizontes alargados?! Mas, avisamos... não vai ser fácil!
Aspetos do percurso pedestre pelos Monte Queimado e Monte da Guia
Regressando a Porto Pim, aconselha-se um passeio - sugerimos ao pôr-do-sol - na pitoresca marginal (Rua do Castelo), entre o "Genuíno" e a "Taberna do Pim" e a Torre de Vigia, passando pelo Forte de S. Sebastião. Um "continental" jamais esquecerá.
Obviamente não é possível fazer aqui uma descrição detalhada e completa do que o Faial tem para nos oferecer. Contudo, há ainda três ou quatro locais de que gostamos imenso e que gostaríamos de partilhar:
- a praia de Almoxarife, no lado oriental da ilha, com vista privilegiada do Pico,
- as piscinas naturais do Varadouro, no lado ocidental, abaixo de Capelo,
- o miradouro de Nossa Senhora da Conceição, na Ponta da Espalamaca, voltando para leste. A vista sobre a cidade da Horta é realmente fabulosa, estendendo-se ao Pico e a São Jorge. Também
- o morro de Castelo Branco, um bloco fenomenal na parte sul da ilha, quase separado desta, com falésias de cortar a respiração. Há um trilho marcado para se poder apreciar e sentir o local.
- A Reserva Florestal Natural do Parque do Capelo, que parece retirada de um conto de fadas.
Em Almoxarife existe um recanto verde, luxuriante, chamado "Poço das Asas". Situa-se num interessante parque de floresta Laurissilva.
À distância de um curto passeio a pé (o trilho, na sua íntegra tem cerca de 8 km), o caminhante penetra numa espécie de lugar mágico, quase virgem, sendo presenteado com melodias que só ali existem. Os pássaros cantam e encantam, sem medo da presença humana. Os fetos podem chegar aos 5 metros de altura, como árvores. A sensação é a de se ter encontrado o Éden, na longínqua era da formação da terra.
No meio daquela cobertura vegetal pujante de vida, uma cascata furtiva, sazonal, forma um pequeno lago, escondido nos líquenes e no musgo, que exala o mistério de lendas antigas, daquelas que já não há memória.
Poço das Asas
Poço das Asas
Poço das Asas
Poço das Asas
Poço das Asas
Poço das Asas
Miradouro de Nossa Senhora da Conceição
Varadouro
Varadouro
Varadouro
Praia do Almoxarife, com o Pico ao fundo
Morro de Castelo Branco
Morro de Castelo Branco
Morro de Castelo Branco
Reserva Florestal Natural do Parque do Capelo
Reserva Florestal Natural do Parque do Capelo
Reserva Florestal Natural do Parque do Capelo
Do Faial fica a saudade e a alma cheia de encantos. Fica também a promessa de voltar, até porque uma parte de nós ali ficou plantada.




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