Santa Luzia - dos miradouros à Aldeia Velha, com descida ao Poço Negro
Poço do Cascudo
Descobrir Santa Luzia é, acima de tudo, gratificante.
A começar no seu espetacular miradouro, junto à Basílica, que a National Geographic Magazine classificou como “um dos mais belos panoramas do mundo”, o rol de cenários de uma beleza exuberante vai-se desenrolando à vista do “explorador”, mantendo o seu interesse do princípio ao final e deixando aquela sensação de um “valeu a pena!” bem patente.
A sua posição privilegiada de montanha costeira confere-lhe atributos ímpares que acicatam os sentidos. Uma vegetação luxuriante, de tons variados, os recortes de mar, de um azul contrastante, que se abrem repentinamente ao longo dos carreiros, uma interminável sinfonia de sons, assobiados e chilreados, melódica e alegre, que deixa adivinhar a riqueza de espécies, paraíso para os ornitólogos e o cheiro a mar, que torna aquela brisa numa bênção e vinca a tranquilidade.
Depois há os locais, mais ou menos remotos, mas que são descobertas autênticas, como pequenas partes de um tesouro que se vai desenterrando.
No percurso de hoje desenhamos um traçado que nos levasse desde o santuário, ponto obrigatório, às lagos e cascatas do Poço Negro e do Cascudo, na Areosa, passando pela “casinha do avião”, o velho posto militar da II Guerra Mundial que nunca foi usado, pela esquecida aldeiazinha de São Mamede, onde os vestígios da Aldeia Velha (que lhe deu origem) ainda são visíveis e pelos “canos de água”, com a sua Azenha Velha e os seus belíssimos arcos, cuja exuberância é traduzida no Arco do Fincão, a destacarem-se.
Este percurso, de cerca de 14 quilómetros, apresenta um grau de dificuldade moderado, sendo a opção do sentido da marcha apresentada, teoricamente mais difícil, já que concentra as subidas mais exigente na parte final. Preferimos fazê-lo neste sentido, com o propósito de deixar para o fim as melhores surpresas, crentes que a sua descoberta anulará qualquer tipo de cansaço que porventura se vá acumulando.
Quais são os principais pontos de interesse do percurso?
Basílica de Santa Luzia e o seu miradouro
Basílica de Santa Luzia
Basílica de Santa Luzia
Foz do Rio Lima, com a cidade de Viana na moldura e a praia do Cabedelo ao fundo
A basílica é amplamente conhecida, principalmente pela sua imponência e pela beleza arquitetónica que exibe, no seu trono dominador. A subida ao zimbório, pela íngreme escadinha de pedra em caracol (estreita até à claustrofobia!), será presenteada com a mais espetacular das vistas que se pode imaginar. De um lado, as serranias do Minho e da Galiza, com a Serra d’Arga a NE a mostrar o seu dorso azulado. Depois, Coura e o Gerês e as montanhas de Braga, esbatidas a SE. Em baixo, o Vale do Lima, com as pontes a cruzar o estuário, junto à foz, onde a praia do Cabedelo se estende a perder de vista. Depois, a Oeste, o Oceano Atlântico até á linha do horizonte, que descreve o seu arco de norte a sul.
Achamos que este seria o melhor postal para começar e terminar uma magnífica incursão pela serra.
Da basílica a São Mamede
O troço entre a basílica e a aldeia perdida de São Mamede passa por alguns pontos importantes e cheios de histórias e de história também.
A Cidade Velha ou Citânia de Santa Luzia surge logo no início. Não a incluímos no percurso, limitando-nos a passar ao lado, já que os horários da caminhada e de visita à citânia não eram coincidentes. Mera questão de logística, para quem pretender mesmo visitar aquele local, um pedaço da história longínqua do povoamento da região e da própria humanidade, página esta que remonta ao período entre os séculos I a.C. e I d.C.
Os horários afixados para a visita, à data desta publicação são 10:30-13:00 e 14:00-18:00, entre terça a domingo e o preço do bilhete é de 2 euros.
Mais à frente, encontramos um “miradouro”, entre aspas e vegetação densa, cuja vista se cinge ao ponto em si. É o Miradouro do Depósito de Água.
Casa do Guarda
Casa do Guarda - anexo (forno)
Casa do Radar ou "Casinha do Avião"
Casa do Radar ou "Casinha do Avião"
A Casinha do Avião é uma das muitas construções em ruínas que vamos encontrando envoltas em vegetação. Abandonadas há muito, a natureza vai-se encarregando de as transformar e absorver, processo que lhes dá um ar de graça e as torna em verdadeiros postais.
No caso da Casinha do Avião, ou Casa do Radar, trata-se de uma estrutura militar, construída para servir de posto de radar durante a Segunda Grande Guerra. Ao que consta, não chegou a ser utilizada como tal, pois a guerra terá terminado antes de ser necessária a sua entrada em cena.
Deste ponto, desce-se à aldeia esquecida de São Mamede, com a sua capelinha a receber os visitantes, solitária mas alegre. Esta parte do percurso é de uma beleza extraordinária, feita de veredas, carreiros pitorescos, casas de granito embelezadas com flores de tons vivos, o ribeiro de São Mamede, formando pequenas lagoas com aspeto refrescante…
É hora de voltar, sempre por caminhos diferentes.
"Aldeia Velha"
Capela de São Mamede
Aspetos captados no lugar de São Mamede
Canos de Água e Azenha Velha
Saímos de São Mamede em direção aos Canos de Água, atravessando um troço de pinhal com alguns carreiros menos definidos, mas de passagem relativamente fácil. Antes de entrar no percurso que segue os canos, visitamos a Azenha Velha, num pequeno desvio à direita. O local mostra a ruína de uma antiga azenha, onde a meia cana em granito que servia para conduzir a água até ao cubo, antes desta se precipitar sobre o rodízio, se apresenta ainda muito bem conservada.
A parte inferior do moinho – chamada de inferno ou cabouco – está num estado avançado de ruína, envolta pelo mato e pelo silvado.
Nas imediações pode ver-se uma pequena cascata (bastante ruidosa no inverno).
Aspeto do percurso
Levada
Cubo
Cubo - aspeto exterior
Retomamos o percurso, voltando atrás, entrando agora no túnel de vegetação que dá sombra aos Canos de Água. Esta construção não passa de uma forma engenhosa e eficaz de coletar e conduzir a água desde as minas até ao reservatório das Ursulinas, já na cidade de Viana. Daí era feita a distribuição. Trata-se de um alinhamento de blocos graníticos furados, encostados uns aos outros até formar uma linha de água semelhante a um cano. Plásticos, PVC’s e outros matérias menos sustentáveis não existiam à época.
Na sua parte final, a água tinha de vencer os acidentes do relevo, para poder chegar ao depósito, pelo que foram construídos os arcos que serviam de ponte para garantir a continuidade da sua passagem. A água era movida apenas pela força natural do declive, sem motores ou bombas auxiliares. Os Arcos do Fincão são uma espécie de ex-líbris, em muito bom estado de conservação.
Arcos da levada
Arcos do Fincão
Arcos do Fincão
Arcos do Fincão
Poços Negro e do Cascudo
Saindo da PR9, o nosso percurso – antes de chegar aos arcos – faz um desvio à direita. É necessária alguma atenção, pois o trilho às vezes é bastante subtil e deixa de haver sinalização. O GPS é um recurso aconselhado. O propósito é descobrir o famoso Poço Negro da Areosa e, mais abaixo umas dezenas de metros, o Poço do Cascudo, duas lagoas magníficas com as respetivas cascatas que se lançam ruidosamente de penhascos bem altos. Este conjunto é uma verdadeira atração local, principalmente em dias de intenso calor. O mergulho nas águas verdes destas piscinas naturais é um pretexto de peso para vencer as adversidades do caminho, um pouco acidentado até chegar àquele local.
Conhecendo as lagoas do Gerês e do Rio Âncora, podemos afirmar convictamente que estas duas não ficam a dever nada às anteriores.
O regresso ao trilho é feito pelo mesmo caminho, embora, um pouco adiante, se encontre a bifurcação onde se opta por conhecer um novo troço.
Retoma-se o trilho dos Canos de Água e completa-se o PR9 até à Basílica de Santa Luzia, nuns últimos 1500 metros de subida acentuada, em estradão.
Cruz de pedra, no alto do penhasco
Vista de Areosa
No fundo da encosta, o espelho de água do Poço do Cascudo
Poço do Cascudo - vista parcial
Poço Negro
Poço Negro
Poço Negro
Poço do Cascudo
Poço do Cascudo
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