Pelas margens e aldeias do Rio Ovelha
Ponte do Arco - Rio Ovelha
Da Serra do Marão, brotando da terra em Pena Suar, na Aboadela, desce o Rio Ovelha. Serpenteando até ao Tâmega internacional, vai deixando a sua marca ao longo de uns 23 km, por aldeias de Amarante e do Marco de Canaveses - terra da "baiana", Carmen Miranda.
O "excesso de beleza" a que Miguel Torga fez referência, aludindo à região do Douro, aplica-se aqui, às aldeias de Várzea, Aliviada e Folhada, que este trilho pretende mostrar. São aldeias remotas, despovoadas, mas belas, que, no sossego das encostas, persistem ao desgaste do tempo, retirando dos campos férteis, regados a suor e lágrimas, o sustento do povo envelhecido.
Embrenhemo-nos no trilho.
São 14 quilómetros, por sombras refrescantes – mais ainda, se atendermos a que os percorremos sob uns abrasadores 34 graus... que quase não notamos! O desnível não é muito, mas, num ou noutro ponto, a região assemelhava-se a um deserto – sol impiedoso, terra amarela poeirenta, subida acentuada e silêncio absoluto, de calar a passarada. Mas este não é, de todo, o cenário dominante.
Palmeiras no céu
O trilho começa junto à igreja de Várzea de Ovelha, logo após a ponte. Mesmo aí, uma pequena praia fluvial aguça o interesse. Resistimos e não fotografamos. Ficaria para o final. Para já, o estradão. Depois de uma subida acentuada e aquecida pelo alcatrão negro, ladeamos uma quinta com um exército de palmeiras em formatura. Seria uma espécie de alegoria ao oásis que iríamos percorrer. Depois cortamos à esquerda e o trilho começava verdadeiramente.
O rio, como tema, merece o grande destaque. As suas margens apresentam, alternadamente, um aspeto selvagem, com vegetação densa que filtra a luz, escoando-a em finos raios por entre a folhagem dos salgueiros e amieiros, ou então contam histórias de labores ancestrais, através dos campos agrícolas (muitos ainda cultivados), dos moinhos velhos, cujas ruínas apelam ao imaginário, das represas e açudes, onde a truta encontra o habitat perfeito para a espécie, e das zonas de lazer, agradáveis e convidativas, calmas, livres de ajuntamentos, perfeitas para repousar.
Aspetos do Rio Ovelha - margem esquerda
Todo o percurso converge para o rio. Se se afasta, para evitar algum obstáculo impraticável ou para desvendar um ponto de interesse mais afastado, logo procura encontrar o atalho para a margem. Subimos pela esquerda e descemos pela direita, contornando a ETAR, em Salvador do Monte.
Depois, surge a Ponte do Arco, uma autêntica joia da Rota do Românico. Trata-se de uma ponte medieval, de um só arco, encaixada entre enormes bolbos graníticos. Por baixo, o rio engalana-se, formando a jusante poços de águas verdes cristalinas, zona de banhos e mergulhos por excelência, e a montante um leito largo e baixo, de areias brancas, que assume um aspeto fantástico, numa mescla de verdes e castanhos, debaixo da ampla abóboda de folhagem. Neste local investimos algum tempo, bebendo aquele "excesso de beleza".
Ponte do Arco - ponte medieval sobre o Rio Ovelha
Em suma, esta PR7 leva-nos a atravessar quintas e vinhedos, praias fluviais de areia branca, em lugares inesperados, a visitar um cemitério milenar, com as suas sepulturas antropomórficas escavadas no afloramento granítico da Rua do Arco e passar pontes e pontelhas que vão surgindo ao longo do rio. Transporta-nos por caminhos antigos onde velhos moinhos em ruína transpiram mistério e nostalgia, uma espécie de saudade do passado das aldeias quase desertas, que dali extraíam o seu pão.
Espigueiro de Cem
Quinta de Quintã
Vinhedos
Aspeto do Rio Ovelha - margem direita
Aspeto do Rio Ovelha - margem direita
Praia fluvial - Várzea de Ovelha
Comentários
Enviar um comentário