De Entre-Ambos-os-Rios a Ermida - lugares escondidos na face norte da Serra Amarela
Vista da aldeia de Ermida
Entre o Gerês e o Soajo, a Serra Amarela eleva-se acima dos 1360 metros de altitude (1361 - 9.ª mais alta elevação do território nacional continental), para deslumbrar quem passa.
Se a sudeste o grande lago da albufeira de Vilarinho das Furnas lhe banha as faldas, dando corpo ao Rio Homem e transformando a paisagem, sua face noroeste esconde lugares de encanto, entre desfiladeiros e planaltos (quase) inacessíveis, que a tornam num verdadeiro paraíso bem minhoto.
Fomos conhecer alguns destes lugares mágicos, de botas nos pés e mochila às costas, como convém aos que buscam nas raízes o conhecimento mais profundo do que nos rodeia.
Partimos de Entre-Ambos-os-Rio, a pequenina aldeia de Ponte da Barca abençoada pelas águas do Lima, do Tamente e do Froufe, estes dois a rodearem-na antes de verter os seus caudais no primeiro. Logo ali há encanto. A velha igreja de S. Miguel, datada do Séc. XVIII, revela histórias e caraterísticas do passado das gentes e da cultura locais.
Igreja de São Miguel de Entre-Ambos-os-Rios
Algumas centenas de metros, percorridos numa artéria principal da aldeia, e viramos à esquerda, em direção a Froufe e ao rio, que tem o mesmo nome, que atravessamos através de uma velha ponte, justamente no Poço de Froufe. Esta passagem é como um portal que nos atira para fora da aldeia, para caminhos de pé posto que, paulatinamente, vão subindo encosta acima.
A paisagem é magnífica. Entre pinheiros, carvalhos e giestas, carreiro e calçadas velhas, vamos observando os afloramentos de rocha granítica que salpicam a encosta da margem direita do Froufe, ou as cumeadas, a sul, esbatidas pela distância.
Aspetos do percurso
Em Lourido, onde não chegamos a entrar, regressamos à margem esquerda do Froufe, para seguir um estreito mas agradável trilho, junto à Ribeira de Carcerelha. Reina a tranquilidade e a paz, típicas das regiões remotas. O caminho é algo íngreme, obrigando a saltitar por entre pedras, no leito da ribeira, que, por esta altura, ainda segue calma no fundo do desfiladeiro. As águas de inverno fá-la-ão rugir temerosamente.
Em mente tínhamos a visita ao Poço da Baraceira, ideia que descartamos a escaços 100 metros do objetivo, dada a tecnicidade da progressão -sem trilho e vegetação espessa. Para além disso, não se trata de um poço tão deslumbrante como, por exemplo, o da Cascata da Ermida, que veremos adiante.
Aspetos do percurso
É hora de uma curta pausa para retemperar energias, pois o troço seguinte é duro. Serão mais de 2 quilómetros de subida até à aldeia típica de Ermida, numa encosta com pouca sombra (neste dia as temperaturas rondavam os 28 graus), que é compensada pelas exuberantes paisagens, quer do fundo do vale, quer das encostas ao redor.
A entrada na aldeia de Ermida faz-se por uma calçada coberta de vinha alta, latada que liberta um agradável aroma a uva moranga. Embora vendimadas, alguns "rabiscos" foram ali deixados nas vides, certamente para que os nossos cérebros evocassem memórias de tempos felizes da nossa infância.
Calçada sob a latada
A aldeia é pitoresca, dominada pelo pequeno largo da igreja, onde um fontanário serve prazenteiramente os caminhantes e as gentes dali. A água não falta e dá vida aos campos em redor. É uma bênção, já escassa noutras paragens onde a pressão dos hábitos modernos a foi esgotando.
O nosso percurso não se embrenhou nas ruelas estreitas de Ermida, partindo antes em direção ao famoso e magnífico miradouro, umas dezenas de metros mais acima. Embora a apenas 500 metros de altitude, deste ponto privilegiado avistam-se horizontes longínquos. A norte, as imponentes serras do Soajo e de Castro Laboreiro. A leste e a sul, a Peneda e o Gerês, imperiais, Terras de Bouro e Vila Verde. A oeste, Paredes de Coura, Arcos de Valdevez e Ponte da Barca. Toda esta panorâmica nos faz estagnar, absorvidos pelo imenso que se alcança. É o "nosso" norte na sua plenitude, que tanto nos orgulha!
Ermida e vistas a partir do miradouro
Está na hora de seguir caminho, pois o percurso vai a meio. Do miradouro da Ermida à Cascata e ao Poço Negro é um "pulo", mas com cautela. A descida é longa e inclinada quanto baste, o que impõem pressão nos joelhos. São quase 2 quilómetros, pela estrada principal de entrada e saída da aldeia.
Em baixo, uma ponte e, logo à direita, podemos apreciar aquele "spot" oferecido pela Ribeira de Carcerelha. O acesso obriga a descer uns penedos, nada aconselhável com tempo de chuva. A queda de água é tripla, formando uma primeira lagoa, que se escapa por entre as rochas, precipitando-se uns 5 metros mais abaixo, num poço escuro e profundo de águas límpidas mas geladas. Os mais afoitos não hesitarão em saltar.
Cascata da Ermida e Poço Negro
O Trilho Interpretativo da Serra Amarela começa mesmo ali, do lado esquerdo da estrada, no sentido descendente desta. É justamente por aí que enveredamos, enfrentando a última grande subida, com cerca de 1,5 quilómetros. Este trilho é bem maior e faz parte da GR34, que o descreve no sentido contrário ao que aqui apresentamos. Esta é a parte da etapa da GR34 que liga a Louriça (acima dos 2300 metros de altitude) à Ermida. Os urzais, os matos rasteiros, as paisagens... enfim, tudo forma um conjunto que não deixa ninguém indiferente.
No Vidoal deixamos a GR34, seguindo pela direita em direção a Lourido. Esta povoação, iluminada pelo sol do entardecer, vista do alto, é deveras linda.
Lugar do Lourido
O nosso trilho desagua já fora da aldeia, à sombra das encostas que cercam o vale. Contudo, percebe-se que a vida por ali tem uma forma própria de evoluir. As regras são ditadas pela montanha, pelas ribeiras encrespadas, pelo sol que cresta e pela neve que curte. Dá que pensar.
Regressamos a Froufe e dali a Entre-Ambos-os-Rios, 6 horas e meia depois do cafezinho tomado ao balcão do café da aldeia, antes da partida.
Há muito mais para ver, já que a região é pródiga em pontos de interesse. Este é, sem dúvida, um desses pontos que vivamente aconselhamos. Antes do regresso a casa, houve ainda tempo para visitar o parque de campismo, junto ao Lima, ali bem perto. Para sermos sinceros, visitamos antes o Lima Bar, que dispõe de uma formidável esplanada sob as árvores, com um ambiente extraordinário e uma carta de "tapas" muito bem composta (a batata rústica é divinal). Caloria gasta... caloria reposta!
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