Celanova e Allariz - no reino maravilhoso da Galiza

Ponte romana de Allariz

A norte do Parque Nacional da Peneda-Gerês e da Reserva da Biosfera Transfronteiriza Gerês-Xurés, encontramos dois pequenos municípios galegos, cujos encantos e segredos não podemos deixar de partilhar: Celanova e Allariz.

Parte integrante da província de Ourense, apresentam-se ao viajante como pontos de paragem e visita obrigatórios e os motivos de interesse são mais que muitos.

Comecemos por Celanova. Ocupando uma área de cerca 67 km quadrados e com uma população estimada em perto de 5600 habitantes esta cidadezinha tem na sua Praça Maior o seu ex-libris: o mosteiro de San Salvador de Celanova.

Mosteiro de San Salvador de Celanova

Estranhamente assimétrico, com a igreja "encostada" a um dos lados, diz-se que terá sido Roma quem terá "impedido" que este mosteiro rivalizasse com o de Compostela, motivo pelo qual a outra ala não existe.

A sua fundação data do século X, obra de San Rosendo, embora o edifício atual seja mais recente - séculos XVI e XVIII. Atualmente é ocupado pela Polícia Municipal e pela Câmara (Casa do Concelho).






À noite, a vila assume a calma e o silêncio próprios das povoações interiores, o que lhe realça a beleza natural. Ruas iluminadas à luz pálida dos candeeiros e um ou outro bar que a anima, sem quebrar a harmonia e a tranquilidade.

Mural em homenagem a Manuel Curros Henríquez






Bem junto ao centro, numa rua pedonal, elegemos o Acouga Hotel Boutique como "base" para explorar a região. Num edifício centenar, o seu recente restauro transformou-o num belíssimo hotel, com uma conjugação perfeita entre a traça antiga e os elementos modernos, conferindo-lhe um conforto e uma beleza arquitetónica ímpar, que, aliados à simpatia de quem gere, tornam o espaço num local perfeito.




Partamos para Allariz, a escassos 20 minutos de viagem, por uma estrada de montanha que serpenteia por sob densos arvoredos, aqui e ali quebrados por pequenos aglomerados de casinhas simples e silenciosas.

Um pouco maior que Celanova, Allariz apresenta uma extraordinária riqueza cultural, materializada por monumentos, ruínas e histórias que a tornam única. A par deste espólio, o bucólico Rio Arnoia, que atravessa a vila e lhe dá o toque mágico que a torna num magnífico destino.


Ponte romana sobre o Rio Arnoia



De facto, uma manhã e parte da tarde bastaram para percorrermos a pé o "casco antigo" ou centro histórico de Allariz e respirar a sua essência. Logo no início, deixando o carro no espaçoso parque de terra batida de A Barreira, estamos perante dois monumentos de enorme interesse: a igreja de San Benito e o Convento de Santa Clara, próximos mas independentes.

Igreja de San Benito de Allariz

Convento de Santa Clara de Allariz

No convento, pudemos apreciar a vasta coleção de arte sacra deixada pela rainha Dona Violante (Violante de Aragão, esposa de Afonso X, o Sábio). Violante de Aragão foi, aliás, fundadora deste convento, que possui o maior claustro barroco de Espanha, no ano de 1268 - século XIII. Um espólio impressionante, reunido em três salas. Pena que o claustro se encontrasse vedado ao público, já que ai residem monjas em estrita clausura.

Penetrando no centro histórico, seguimos até ao Castelo, de onde se desfruta de uma magnífica vista sobre a vila. Pelo caminho vamos encontrando os vestígios do passado - restos das muralhas, que hoje se fundem com as construções recentes e monumentos que preservam as origens de Allariz e dos povos que habitaram a região.

Igreja de Santo Estevão - Allariz


Vista do convento de Santa Clara de Allariz

Na Praça Maior, depois de passarmos junto à antiga cadeia (pela Rua do Cárcere), podemos apreciar a belíssima Igreja de Santiago, um monumento pré-românico dos séculos XII e XIII.



Igreja de Santiago, Allariz

Ainda no que toca a monumentos, o percurso pedonal leva-nos junto ao Rio Arnoia, onde surge, entre frondoso arvoredo, a igreja de Santa Maria de Vilanova, no silêncio do cemitério que a ladeia e do rio que corre sereno, sob a ponte romana de duplo arco, joia de Allariz.




Aspetos da igreja de Santa Maria de Vilanova, Allariz


Ponte romana sobre o Rio Arnoia, Allariz

A tranquilidade é nota dominante em Allariz, vila premiada pela forma como preserva os seu legado histórico medieval. Tudo nela está ordenado e organizado, contribuindo para um todo que pretende ser visto e preservado, quase intocável.

Gostamos das ruas de pedra, dos miradouros, dos monumentos e do rio; gostamos do tempo, da atmosfera e das pessoas. Da rececionista do mosteiro, com quem estivemos à conversa longos minutos, ela que muito bem nos falou das suas aventuras em Portugal; da dona da lojinha de recordações, que também escolheu Portugal para passar a sua lua de mel, já lá vão uns anos, altura em que conheceu pessoalmente o "nosso Prémio Nobel", José Saramago. Que bem que nos elogiou!

Não nos entendemos muito bem com os costumes de nuestros hermanos no que diz respeito aos seu hábitos e horários das refeições. Como bons portugueses, apreciamos a boa comida, genuína e sem requintes exagerados. Em Allariz, a restauração (na sua maioria) encerra "los lunes" (e, casualmente, era segunda-feira!). Enfim... contingências.


Boi de Corpus - tradição enraizada nas lutas entre judeus e cristãos (origem em 1317)




Aqui fica a nossa sugestão: ao passar pela Galiza ou, simplesmente, para uma escapadela de fim-de-semana, Celanova e Allariz são pontos obrigatórios.

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